INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DE ANÁPOLIS
* Juscelino Polonial

Tendo como base o aspecto econômico, podemos dividir a História de Anápolis em quatro momentos. O primeiro, das origens, em 1870, até a primeira década do século XX, que corresponde à formação inicial do arraial até a elevação da Vila à categoria de Cidade. Nesse período predominou uma economia rural e local, pois a cidade não oferecia uma diversidade econômica para a sua população, tendo como destaque a criação de gado.

O segundo momento está delimitado entre a década de dez e a década de trinta, com o incremento populacional e a evolução para uma economia de agricultura comercial já na década de vinte e, principalmente, na década de trina, devido à perspectiva da chegada dos trilhos e do progresso que isso representaria. Era consenso na época de que a ponta da linha férrea traria muitos benefícios para a economia local.

O terceiro momento entre as décadas de 30 e 60, foi quando Anápolis se transformou no maior pólo atacadista do Centro-Oeste. Alguns fatos foram decisivos para que isso acontecesse e contribuísse para a acumulação de capital na cidade. De início destaca-se a chegada da ferrovia em 1935, que fez de Anápolis o maior centro comercial do Goiás entre as décadas de trinta e cinqüenta, isso porque a cidade foi ponta de linha dos trilhos e toda a circulação de produtos da região passava pela estação ferroviária anapolina. A riqueza acumulada foi tanta que a cidade chegou a ter dois bancos: o primeiro estava ligado ao grupo Pina e outro, ao seu opositor político, o grupo de Jonas Duarte, o que mostrava, em alguma medida, a opulência da economia de Anápolis. O segundo fator foi a política de interiorização de Getúlio Vargas nas décadas de trinta e quarenta, concretizada na construção de Goiânia e na criação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás em 1941. Esses dois fatores trouxeram investimentos, imigrantes e a abertura de novas estradas, beneficiando a agricultura de mercado e o comércio atacadista de Anápolis. Um terceiro fator que favoreceu o desenvolvimento econômico do município pode ser apontado com a construção de Brasília nos anos cinqüenta. Sabe-se que houve muita contratação de mão-de-obra na cidade, bem como a compra de materiais para a construção da futura capital do país, beneficiando, de alguma maneira, o comércio anapolino. Todo esse desenvolvimentismo fez com que o município recebesse muitos imigrantes, diversos investimentos e toda a sorte de construções urbanas, sejam as residenciais, ou as comerciais, que dinamizaram ainda mais a economia local.

O último momento está delimitado entre a década de sessenta e os dias atuais, tendo como referência a criação da Associação Industrial de Anápolis (AIA), em 1958, a realização da 1 ª FAIANA em 1969, a construção da Base Aérea (1973) e a inauguração do DAIA (1976). A instalação do DAIA trouxe novos investimento e muitos postos de trabalho, aumentando a massa salarial na cidade, movimentando o comércio. Em alguma medida, pelos mesmos motivos, os militares movimentaram o comercio local. Nessa fase, a economia de Anápolis terá como foco a agroindústria, e outros ramos do setor secundário, revitalizando as finanças do município, embora o comércio continuasse sendo a atividade econômica mais importante da cidade. Nos anos noventa e no início do século XXI, o DAIA teve uma nova fase de crescimento, tendo como símbolo pela indústria farmacêutica.

Nesses quatro momentos, temos os seguintes destaques a fazer: o quadro populacional e a alternância política. Sobre o aumento populacional, na década de 1930, tivemos um grande deslocamento de pessoas para Anápolis, tanto do Brasil, quanto do exterior. Em geral, nesse período, Anápolis era a cidade do Estado de Goiás que mais recebia imigrantes, 22,76% do total chegavam à região, enquanto que a capital, Goiânia, recebia apenas 16,50%, isso em 1940.

Dentre os grupos estrangeiros que mais chegaram à cidade podemos destacar os japoneses e italianos, que se envolveram em atividades agrárias, e os sírios e libaneses, que optaram pelo comércio no município. A imigração foi um dos fatores de desenvolvimento econômico da região e a variedade de produtos comercializados. Esse desenvolvimento fez com que a cidade se transformasse no maior centro comercial do Centro-Oeste nos anos seguintes. Até o final do século XX, Anápolis será o segundo município goiano em população, perdendo essa condição para Aparecida de Goiânia no censo do IBGE de 1996.

Outro aspecto a considerar é sobre a História Política de Anápolis que se confunde com a religiosidade do seu povo. Em 1870 tem origem o arraial com a construção da capela em homenagem a Santana. O terreno fora doação de fazendeiros da região, em documento que é o marco da origem de Anápolis. A partir daí, a localidade foi, aos poucos, ganhando a sua autonomia.

Em 25 de julho de 1872, foi criada a Freguesia de Santana das Antas, uma delimitação religiosa pertencente ao município de Meia Ponte; em 1884 a freguesia passou a se chamar Santana dos Campos Ricos, já uma referência à fertilidade das terras da região, que farão de Anápolis, nas décadas de 1930 e 1940, o maior centro cafeeiro do Centro-Oeste. O Salto político qualitativo foi a elevação à condição de Vila em 15 de dezembro de1887, pela Lei n º. 811, mas só instalada em 10 de março de 1892. No período da freguesia até a elevação à condição de vila, os limites territoriais foram alterados até definição por época da elevação da Vila à condição de cidade, em 31 de julho de 1907, pela Lei n º. 320.

Antes de continuarmos falando da política anapolina após 1907, vejamos alguns dados geográficos de Anápolis, definidos pela Lei de criação do município. Ele perdeu mais da metade do seu território, desde a sua criação, em 1907 até a década de noventa, com a emancipação de Nerópolis em 1948, Nova Veneza, Damolândia, Goianápolis e Brazabrantes, todos em 1958, Ouro Verde de Goiás em 1963, e mais recentemente, em 2001, Anápolis teve a sua última fragmentação territorial, com a emancipação de Campo Limpo de Goiás. Assim, se em 1907, o município de Anápolis possuía 2.622 Km ², hoje ele tem apenas 1.075 Km ².

Desde 1893 que a população da Vila elegia o seu representante, mesmo com todos os vícios do coronelismo típicos da República Velha (1889-1930). Apenas o primeiro administrador foi nomeado, o Sr. José da Silva (Zeca) Batista, que administrou entre 1892 e 1893. Daí, até 1930, foram 11 administradores, passando a fase da Vila, para a Cidade, e, aos poucos a município foi se desenvolvendo.

A década de 1930 será um marco para a história de Anápolis, pois a inauguração da ferrovia, em 1935, permitiu à cidade um grande desenvolvimento econômico, fazendo do município, o maior pólo econômico da região. No campo político, tivemos a Revolução de 1930 e por conta desse fato, Anápolis, entre 1930 e 1947, elegeu apenas um prefeito pelo voto direto, o Sr. José Fernandes Valente (1934-1940), embora também viesse a ser nomeado por Vargas com o golpe do Estado Novo.

Outros 11 prefeitos foram nomeados para administrar Anápolis entre 1930 e 1947, o que nos levar a concluir a pouca participação da população no processo político da cidade. Alguns chegavam a ficar alguns meses, comprometendo todo planejamento que pudesse ter a prefeitura. Entre os anos de 1947 e 1973, a cidade recuperou a sua autonomia política e o povo voltou a eleger os seus representantes pelo voto direto e secreto. Nessa fase, os anapolinos elegeram nove prefeitos, inclusive após o golpe militar de 1964. Na verdade, só em 1973 é que a cidade deixaria de eleger o seu chefe do executivo, quando a cidade foi decretada área de segurança nacional com a construção da Base Aérea. Naquele ano, o prefeito eleito, José Batista Júnior, teve o seu mandato cassado com base no AI-5 e a cidade voltava a ter os interventores.

Essa fase política de Anápolis foi marcada pelo autoritarismo, como de resto acontecia no Brasil. Mais nove prefeitos foram indicados para administrar a cidade entre 1973 e 1985, quando foi restabelecida, novamente, a eleição direta e secreta para o executivo. Nesse último momento político, entre 1986 e 2006, a cidade já elegeu cinco prefeitos, sendo que em duas eleições, Adhemar Santillo foi o vitorioso e tivemos um prefeito cassado no ano de 2003, o empresário Ernani de Paula.

Um último ponto a considerar sobre esse esboço histórico de Anápolis é da sua evolução populacional. Em termos percentuais, o período de maior crescimento populacional, foi entre 1911 e 1920, quando a cidade cresceu 6,58% e, depois, o período logo a seguir, de 1921 a 1935, quando o crescimento foi de 5,61%, exatamente o período de desenvolvimento econômico ligado ao período de prolongamento dos trilhos até a inauguração da estação ferroviária da cidade, em 1935. O terceiro maior crescimento populacional de Anápolis foi entre os anos de 1971 e 1980, quando o percentual foi de 5,52% ao ano. Essa fase coincide com a instalação da Base Aérea e do DAIA, o que confirma a relação entre desenvolvimento econômico e crescimento populacional.

*Juscelino Polonial é professor do curso de História da UniEVANGÉLICA